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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Não crie polaridade, para não cair na bipolaridade.

Por Mariliz Vargas

Nos dias de hoje, a felicidade tornou-se um item básico de consumo. Todo mundo quer ser feliz, pois é sinal de status e competência perante a vida. Diante desta necessidade moderna, você pode acabar criando polaridade quando busca estimular demasiadamente um estado positivo, justamente por não se sentir feliz.

Sabe aquele dia que você não acorda bem? Está pra baixo, triste, fazendo pouco de você mesmo e da sua vida? Todo mundo acorda assim algum dia, provavelmente por motivos justos, pois são muitas as perdas, muitas as frustrações e desilusões que a vida reserva para uma simples existência humana.
Mas o fato é que não aceitamos este estado de espírito, digamos assim, mais tristonho. E partimos para o ataque utilizando, evidentemente, nossos recursos mentais. Lembramos de tantas técnicas aprendidas para levantar o astral, podemos dizer frases de incentivo, imaginar locais belos e arborizados, transportar a imaginação para praias paradisíacas, ou quem sabe, numa medida mais concreta, ir ao salão de beleza, mudar o cabelo ou fazer uma massagem.

Depois de muito empenho, conseguimos por alguns momentos criar um sentimento um pouco mais agradável, um pouco mais pra cima, devido às estratégias empregadas. Mas estas estratégias são produtos de um esquema mental de felicidade, vem de conceitos e estereótipos superficiais, que não se sustentam, não tem energia pra sustentar toda esta euforia durante muito tempo.

Vem então, em seguida, a queda. É como se, para levantar o moral, você inflasse a sua auto imagem com bastante ar, mas este ar escapa diante do mínimo furo neste seu esquema, e vai tudo pelos ares. E este momento de queda é mais dolorido do que a tristeza original, aquela que gerou a parafernália de auto ajuda.
No momento de baixa, podemos, em algum momento, reinvestir na tentativa de subir, usando os mais variados meios, pois destes nossa sociedade não carece. Filmes, compras, festas, comidas, literatura de auto ajuda, relacionamentos, tudo para levantar novamente nosso estado de ânimo. Mas, como este estado de espírito é criado pelas estratégias, não tem sustentação e cai novamente, criando um circulo vicioso que tem sido chamado, com muita freqüência, de transtorno bipolar.

Os estudiosos do assunto podem lançar argumentos de todo gênero a esta simples constatação que trago aqui: podem apresentar argumentos que vão desde o desequilíbrio químico, passando pela tendência genética e desembocando em explicações complicadas a respeito da dinâmica "psico-social-relacional-afetiva" da pessoa. Mas a questão, pura e simplesmente é: o quanto você tem criado polaridades na sua vida, por não dar conta de viver suas tristezas e dores, por não agüentar sentir algo que não seja assim tão agradável?

Criar polaridade é forçar uma situação positiva, teimar com a vida, que está lhe apresentando uma tristeza, por exemplo, e passar a não aceitá-la, indo em busca de situações que simulem uma felicidade. Só que uma felicidade falsa, pois a verdade do seu sentir está na direção da tristeza, e ela vai puxar você, mais cedo ou mais tarde. E esta puxada é o pólo negativo, o outro lado, que fica cada vez mais difícil de ser vivido, chegando ao estado onde muitos passam a se denominar doentes.

Precisamos aprender a viver os sentimentos doloridos, suportar a vida em sua intensidade, para que deste momento de enfrentamento surja a verdadeira alegria. Pois alegria não pode ser construída, é algo que vem de dentro de nós. Ela precisa ser conquistada no respeito à vida, e a tudo o que se manifesta em nosso interior como vida, principalmente aquilo que consideramos desagradável, pois estes são, na verdade, os momentos que nos conduzem ao amadurecimento e a conquista de patamares de bem estar nunca antes imaginados.

Sobre a autora:
Mariliz Vargas é psicóloga, formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com Psicoterapia há mais de 20 anos. Ministra cursos e palestras sobre temas relacionados ao aprimoramento humano na busca por uma vida mais rica e feliz. Autora de inúmeros artigos publicados no jornal paranaense Gazeta do Povo, suplemento Viver Bem, e atualmente veiculados através da internet. Recentemente, Mariliz lançou os livros 'A Sabedoria do Não' e 'Você É Mais Forte Que a Dor', pela editora Rósea Nigrea.

Acesse:
www.marilizvargas.com.br
www.twitter.com/marilizvargas
www.roseanigra.com.br

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